"Reza quem é de rezar, brinca aquele que é de brincadeira
Quem é de paz pode se aproximar (...)"

domingo, 21 de junho de 2015

“Cultura ou cultura?”

Extraído de: http://www.cliquediario.com.br/en/jornal/opiniao/6296/Cultura-ou-cultura.htm
Publicado em 

Por Fabio Batista  (Emecê) 


Foto: Arquivo  pessoal
Foto: Arquivo pessoal
Quando estava no Ensino Médio, no meio das minhas curiosidades, pesquisava no livro de introdução a filosofia da Marilena Chauí, o conceito de cultura. Cultura, segundo ela, tem haver diretamente com as relações humanas. Como resolvemos e desenrolamos coisas referentes a nossa vivência.
Partindo desse pressuposto, todos nós fazemos cultura e fazemos parte da cultura, com nossas atividades, pensamentos e até mesmo omissões. E aí, com esse raciocínio, pensamos: O que é definidor para se decidir os rumos da cultura de uma sociedade?
A instituição pública tenta responder com um ministério, secretarias, coordenadorias, salas e programas, cujo o objetivo básico é fomentar a cultura. O direcionamento institucional é que fomentar cultura seria necessariamente o incentivo de expressões artísticas.
O direcionamento institucional é uma baliza que acaba sendo limitante diante do que é o conceito de cultura e acaba sendo incorporado naqueles que participam na gestão e aqueles que participam em algum espaço de discussão e decisão qualquer.
Entendendo a limitação discursiva dos envolvidos, o que acaba se tornando, por exemplo, um fórum de cultura? Um espaço básico onde artistas direcionam políticas públicas relativas a cultura ou pelo menos mostram um interesse para que determinadas diretrizes aconteçam.
Bom, diante dessa realidade, penso que dentro de microcosmo social, o número de artistas é pouco, e sendo pouco, a visão dessas pessoas acaba se pautando em uma parte do microcosmo que eles vivenciam em suas práticas. E essas pessoas são realmente capazes de pensar a cultura de uma sociedade?
Um grande amigo uma vez me disse que um dos grandes problemas dessas coisas, que por mais que as pessoas sejam capacitadas, por elas mesmas sempre falarem para elas mesmas, ocorre o vício linguístico, ou seja, temos sempre os mesmos caminhos, abrimos sempre a mesma porta e não se percebe que o caminho e a porta não é mais para seguir, por conta do vício, no caso, das mesmas ideias e dos mesmos comportamentos.
Então, garantir a participação ampla e irrestrita de todos que fazem cultura nos âmbitos de discussão daria soluções e práticas que talvez os artistas nunca antes pudessem pensar, por conta de uma limitação dentro do microcosmo. E penso que mais do que nunca, precisamos disso, sabe?
A instituição pública abriria mão do seu direcionamento secular? Os artistas abririam mão de seu poder decisório? Sei lá, mas pelo menos onde eu moro, continua mais do mesmo.
E na entrada do teatro, onde se discute essas coisas, um grupo de sem teto se protege do frio, bebem sua pinga e fazem artesanato com folha de coqueiro e palmeiras.
A quem nos reportamos?
*Fábio é professor do estado, rapper e ativista das causas  pela igualdade racial 

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